Construindo Times Incríveis

10 Oct 2022

TL;DR
  • - História real da melhor equipe de engenharia em que trabalhei.
  • - Fala sobre cultura de engenharia, autonomia, confiança, impacto e mais.


Atenção: esta história não começa com sucesso e glamour. Tornei-me líder de uma equipe de 3 engenheiros, onde 2 decidiram sair da empresa e o último pediu para mudar para outra unidade de negócios, causado por uma reorganização e o fim de um produto para o qual trabalhavam. Provavelmente foi o pior início de um time da história.


CONTRATANDO

Poderia ser um fim trágico, mas estávamos recrutando ativamente na época e tínhamos dois candidatos que foram muito bem nas entrevistas, tinham boas experiências e estavam sendo subestimados em empresas anteriores, após uma correspondência mútua ambos começaram a trabalhar conosco em tempo para evitar a quebra do time.


CRIANDO CONEXÃO

No início, o humor da equipe era uma coisa estranha de definir, com alguns sentimentos de fracasso misturados com um olhar de esperança por dias melhores. Isso começou a mudar em nossas retrospectivas, decidimos adicionar uma seção de team building logo antes da reunião de retro quinzenal. Em cada sessão, um membro da equipe era responsável por trazer uma atividade, um exemplo de atividade é: 2 fatos e 1 mentira sobre sua vida. Essa é uma boa maneira de, mesmo em uma equipe remota, criar uma sensação de proximidade e confiança conhecendo um pouco mais sobre os outros que trabalham com você.


BUSCANDO PROPÓSITO

Uma vez que as pessoas se conectaram, ainda faltava uma conexão com o negócio para criar propósito e ownership. Então fizemos algumas sessões para criar essa missão, e alguns tópicos foram co-criados pela equipe:

  • O que a equipe é e o que não é
  • Fraquezas e fortalezas
  • Carta para o futuro
  • Declaração de missão


DESENVOLVENDO AUTOCONHECIMENTO E AUTONOMIA

A essa altura, o clima da equipe era bem diferente do início, as pessoas estavam confortáveis com suas atividades diárias e trabalhavam com sentimento de pertencimento e foco em direção aos objetivos da nossa missão. Então era hora de começar a olhar para a nossa eficiência de fluxo e aumentar a autonomia do grupo.

Para ajudar nessa etapa, um mentor me recomendou um livro chamado: “Accelerate: The Science of Lean Software and DevOps”. Este livro traz pesquisas científicas que analisam centenas de empresas extraindo características e como medir o desempenho de suas equipes e em quais recursos elas devem investir para aumentar o desempenho. Usando os KPIs do livro e incrementando com os que faziam sentido para entendermos quanto valor estávamos entregando ao usuário e à empresa, montamos uma rotina de mensurar, digerir e agir para melhorar coisas que não eram tão boas.


ENTREGANDO IMPACTO

A hora do show estava prestes a começar. O gerente de produto trouxe um problema de negócios sobre criar um fluxo de transferência de dinheiro exigido pelo banco central, com um escopo enorme, casos de uso complexos e um prazo apertado que impossibilitava a realização.

Mas nem tudo estava perdido, neste momento tínhamos nossas métricas rodando, e após refinar o problema aplicamos um modelo estatístico chamado “Monte Carlo” para mapear nossa previsão de entrega e dar uma estimativa aos stakeholders de negócio. Esse mapa deixou claro para todos que com tamanho do escopo e tamanho da equipe não seria possível entregar o que era exigido. Então fizemos uma força-tarefa para replanejar o escopo, quebrando primeiro as pequenas entregas das coisas mais importantes, também repensamos a tecnologia de como usar frameworks e como adaptar os serviços já criados para aquela necessidade, e depois de todos esses rearranjos, começamos a codar e construir as coisas.

O resultado veio como esperado, uma equipe engajada, com escopo claro, missão clara, ferramentas certas e autonomia foi mais do que capaz de passar por esse desafio e entregá-lo sem problemas, tarefa por tarefa testada por um grupo de usuários internos, e o resto do escopo que havia sido despriorizado no início voltou para o backlog e também foi entregue ao longo das próximas semanas.


O FIM

Após essa entrega, o olhar de dúvida que alguns tinham sobre nossa equipe se transformou em admiração e orgulho. Claro que isso não é um fim, depois dessa situação o time passou por muitas outras mudanças e desafios, mas com uma visão clara do processo que nos levou até aquele lugar, foi mais fácil passar pelas fases de turbulência e voltar ao equilíbrio como esperado.